V Seminário Internacional sobre Capitalismo Burocrático na Explicação do Subdesenvolvimento e do Atraso Social: Brasil, Espanha e Índia

O evento será promovido pelo Grupo de pesquisa sobre o Capitalismo Burocrático na Explicação do Subdesenvolvimento e do Atraso Social (GISAS), existente Brasil a partir da vinculação de pesquisadores de várias universidades ao GISAS, que foi fundado no departamento de geografia da Universidade de La Laguna (Tenerife - Ilhas Canárias - Espanha) em 2004. O GISAS - Espanha tem se destacado pela realização de pesquisas e publicações sobre a questão agrária e urbana na Espanha. No Brasil o GISAS é formado por pesquisadores e estudantes que vêm realizando pesquisas sobre a realidade socioeconômica nacional.

O objetivo do Seminário é discutir e difundir as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas na América Latina, na Espanha e Índia para aprofundar a compreensão da realidade social destes países que não realizaram mudanças como as ocorridas nos países onde ocorreram revoluções burguesas clássicas como na Inglaterra, França, Alemanha, EUA. 
A crescente pobreza dos países do terceiro mundo, tanto no campo quanto nas cidades, necessita ser explicada a luz das investigações realizadas pelas Ciências Sociais. Diferentes escolas têm sido desenvolvidas para compreender o fenômeno da pobreza no que pese o crescimento da riqueza global conforme o desenvolvimento realizado por Marx a Lei Geral da Acumulação Capitalista, que consiste na polarização entre riqueza x pobreza.

A teoria marxista e seu desenvolvimento com Lenin (1916) elabora a tese do imperialismo que em essência consiste, entre outras características, explicar a dominação de um número muito reduzido de países sobre a maioria das nações acirrando ainda mais todas as contradições do capitalismo. Isto tem como consequência a permanência nos países dominados de relações sociais de produção atrasadas (semifeudais) e o semicolonialismo.

O entendimento científico de como se desenvolve o capitalismo nos países dominados tem como principais aportes a análise da realidade chinesa na obra de Mao TseTung. A utilização do Estado para alavancar capitais e a injeção de recursos pelas potências capitalistas nos países semicoloniais permite compreender o que se chama de Capitalismo Burocrático.

Vale destacar que importantes teóricos marxistas latino-americanos, chegaram, paralelamente ou não, a conclusões muito próximas do conceito de Capitalismo Burocrático. O exemplo expressivo é do marxista peruano José Carlos Mariátegui (o estudo e a análise de Mariátegui representam a síntese do capitalismo burocrático no Peru). Em sua obra 7 Ensaios sobre a Realidade Peruana, analisa as particularidades da colonização espanhola em contraposição com a colonização inglesa; como no caso do Peru o “conquistador espanhol” vai utilizar uma série de relações atrasadas, particularmente o “gamonalismo”, para explorar e oprimir o campesinato indígena.

No Brasil, importantes autores como Josué de Castro, Nelson Werneck Sodré e Alberto Passos Guimarães produziram estudos sobre a realidade nacional explicitando, com evidências e fundamentação teórica, a existência de características semifeudais na sociedade brasileira. Muitos destes estudos são interrompidos no Brasil por causa do golpe militar de 1964.

Considera-se que estes estudos precisam ser retomados para a compreensão da realidade nacional e de outros países em semelhante condição. Os estudos que enfocam a realidade desses países consideram que a permanência do problema agrário constitui-se no principal impedimento para o desenvolvimento das forças produtivas e das mudanças nas relações sociais de produção. A não superação de tal situação mantêm milhões de camponeses sem acesso à terra, devido a permanência do latifúndio; grandes contingentes populacionais vivendo em condições de miséria nas cidades e a proletarização crescente da pequena burguesia, tais como técnicos, engenheiros, professores, etc... A dominação imperialista, aliada a estas condições internas, promove o saque e a pilhagem dos recursos naturais, a manutenção do país como exportador de monoculturas, a imigração por razões econômicas, o frágil desenvolvimento científico e tecnológico gerando um questionamento sobre a efetiva existência da nação.

Na Europa, como o caso da Espanha, pesquisadores do GISAS têm se utilizado deste arcabouço teórico para estudar regiões do país onde ocorrem relações de produção semifeudais, relações políticas autoritárias do tipo que Mariátegui estudou no Peru – que na Espanha denomina-se de caciquismo -, e processos de transformação econômica que não geram ciclos virtuosos de difusão de progresso técnico e redistribuição de riquezas. O GISAS do Brasil, além da Espanha, mantêm intercâmbio acadêmico com pesquisadores indianos e de outros países da América Latina que estudam a realidade de seus países utilizando o mesmo referencial teórico.

O encontro permitirá o intercâmbio entre pesquisadores que estudam aspectos gerais e específicos da formação econômica, política e social brasileira e destes com outros países, tendo em vista a construção de respostas às situações de pobreza e miséria que assolam estes países. As similitudes e as diferenças das realidades entre um e outro lado do Atlântico no mundo ibero-americano permitirão, entre outros objetivos, um aprofundamento da questão agrária, problema-chave para compreensão do Capitalismo Burocrático nos diversos países.
A importância deste evento é reforçada pelo fato de que o debate sobre Capitalismo Burocrático foi retomado, ou mesmo iniciado, como é o caso de nosso país, em várias universidades e movimentos sociais como um importante instrumento de análise. A discussão do GISAS no Brasil ganhou relevância com a realização do I Seminário Internacional no ano de 2009, promovido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com a presença não apenas de pesquisadores e estudantes de diversas partes da país mas também com a participação ativa de ativistas dos movimentos sociais do campo e da cidade. Esse Encontro contou com a participação de professores e pesquisadores de várias Universidades do país, como: Universidade Federal de Rondônia, Universidade Federal de Alagoas, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal do Acre, Universidade Federal Fluminense, Universidade Estadual de Montes Claros, entre outras e representação da Universidade de La Laguna (Espanha).

Em 2009 foi realizado o I Seminário sobre Capitalismo Burocrático na Universidade Federal de Rio de Janeiro. Em 2010 o Programa de Pós Graduação em Serviço Social da UFAL promoveu o II Seminário de Capitalismo Burocrático, ministrado pelo coordenador do GISAS da Espanha, e contou com a participação de professores, pesquisadores estudantes de graduação e pós-graduação e ativistas. Este seminário contou com a importante participação de camponeses. Em 2011 realizou-se o III Seminário na Universidade de Pernambuco (Campus Petrolina). Nesta ocasião contou-se com a presença de mais de 200 participantes, com a mesma composição dos seminários anteriores (professores, estudantes e camponeses). Em 2012 o IV Seminário foi realizado na Universidade Federal de Pernambuco (campus de Recife) com a participação de pesquisadores de diversas regiões do país, além da presença de um pesquisador da Universidade de Calcutá e de um estudante da Colômbia.

 

A proposta atual representa uma continuidade dos seminários já realizados, para dar continuidade ao intercâmbio dos pesquisadores brasileiros com os demais países visando a ampliação destes contatos, num patamar superior onde a produção nacional e internacional sobre o tema encontra-se mais avançada.